Vídeos pornográficos com a estética do game são um sucesso em sites adultos.
por / Tiago Mota
SEGUNDO UMA PESQUISA divulgada pelo Pornhub.com – o mais acessado site de vídeos pornográficos do mundo -, buscas pelo termo “Minecraft” em sua plataforma são as que mais crescem proporcionalmente: entre janeiro de 2014 e dezembro de 2015, o aumento foi de incríveis 326%.
A quantidade de buscas em um site pornô para um determinado termo não indica, necessariamente, os tipos de vídeos lá disponíveis, mas sim os tipos de vídeos que as pessoas gostariam de assistir. Assim, procuras relacionadas a jogos, como Halo, Call of Duty e outros mais, são bem populares. Nesses casos específicos, a maioria dos vídeos é apenas de gameplay: alguém gravou uma partida e decidiu subi-la para um site pornô, mesmo sem menção ao sexo.
Mas, entre os muitos gameplays de Minecraft no site, existem, sim, conteúdos pornográficos sobre o game. Um exemplo é o Minecraft Hardcore Anal, em que os bonequinhos quadradinhos praticam sexo anal, masturbação e um 69. De todo modo, o apelo do vídeo está muito mais para a zoeira do que para o tesão – se bem que há gosto para tudo.
Conforme expõe a pesquisa, 85% dos que buscam por Minecraft são homens, dos quais 80% têm entre 18 e 24 anos. O dado da idade, porém, pode ser impreciso: o game é muito mais popular entre adolescentes e menores de 18 anos, mas o Pornhub não assumiria que essa faixa demográfica acessa seu site.
Quando veio a ideia de escrever sobre o tema, eu, o jornalistão, pensei em entrevistar quem faz e consome Minecraft pornô. Mas como? Adentrei o Pornhub e saí comentando nos vídeos: “Sou um repórter brasileiro e quero conversar com quem assiste isso aqui”. Nem preciso dizer que não fui bem-sucedido. Só recebi uma resposta, do usuário Dirtmelon, dizendo: “Kys thank you”. Aprendi que “kys” é uma sigla para “kill yourself”, ou “se mate”.
A aproximação entre videogames e pornografia pode até parecer incomum, mas não é novidade. O primeiro jogo considerado erótico foi lançado em 1981, para o Atari 8-bit: o Softporn Adventures. Talvez estejamos prestes a viver, aliás, um novo despertar do videogame pornô graças aos avanços em realidade virtual. Agora, em vez de pender para o jocoso, como era com Softporn Adventures, os óculos VR pretendem nos induzir a, de fato, transar com máquinas.
Pornografia e videogame são assuntos parentes. Ambos nascem da mesma raiz da cultura: o lúdico. Tanto o sexo corpo a corpo e o flerte quanto as brincadeiras de roda são performances, essencialmente, lúdicas. Porém, principalmente a partir século 20, a vivência do lúdico, antes corporal, passa cada vez mais para os aparatos midiáticos ou tecnológicos. Fatalmente, essas atividades acabam sendo apropriadas por indústrias que detêm a produção e a distribuição dessas mídias. Assim, ao longo do tempo, ganham forças tanto o pornô (para o sexo) quanto os games (para as brincadeiras), em formas do lúdico mediadas por aparelhos. De vez em quando, eclodem expressões mais óbvias desse elo entre os dois: é o caso do Minecraft XXX.
Dados como esse nos dão indícios de como a nossa sexualidade pode ser influenciada ou direcionada pelo nosso consumo de mídias. Cria-se uma forma de desejo sexual pelas imagens que fomos habituados a consumir, como sugere essa geração que busca por Minecraft pornô.
Outros exemplos semelhantes podem estar por aí: o aplicativo de “paquera” Tinder pode não ser outra coisa senão um tesão não pelas pessoas que ali se expõem, mas pelos próprios celulares e sua estética imagética, já que somos uma geração habituada ao consumo de smartphones, instagram e afins. Assim como, há pouco tempo, consumir revista de mulher pelada era um tesão pela própria revista e sua estética, e não somente pela modelo nela estampada.