por / Bianca Castanho e Juliano Coelho / fotos / Codo Meletti
(THAÍDE PROVA O CHOPE MAGRELA, UMA GRUIT BEER SEM LÚPULO, COM VÁRIAS ERVAS E ESPECIARIAS) GOSTEI DESSA! NÃO É TÃO AMARGA. DE ERVAS EU ENTENDO.
VOCÊ NÃO GOSTA DE BEBER CERVEJA?
Não. Eu gosto de destilado, apesar de que, pra beber, “destilado” ou “daquele outro lado”, tanto faz. Mas eu gosto de uísque, vodca, caipirinha e sempre que posso peço um mojito. Não bebo pra me apresentar também. Gosto de trabalhar sóbrio, careta. Agora, depois do expediente, também, vai qualquer coisa.
QUAL SEU ENTORPECENTE FAVORITO, ENTRE CERVEJA, CIGARRO, MACONHA…
Esse último que você falou. Ela te relaxa, te deixa tranquilo, tira o estresse e te concentra em certas coisas. Ouvir música, por exemplo, é muito bom. Inclusive, enquanto não resolverem essa questão de legalizar ou não a maconha, essa violência que a gente vê vai continuar. Cannabis é uma erva que nasce no solo. Não tem como você tachar ela como uma droga. E eu, muitas vezes, só sou legal quando estou ilegal, então tem que resolver essa situação (risos).
O QUE VOCÊ ESTÁ ACHANDO DESSA MUDANÇA NA PRESIDÊNCIA (A ENTREVISTA FOI FEITA NA SEXTA-FEIRA, 13 DE MAIO, DIA EM QUE MICHEL TEMER ASSUMIU INTERINAMENTE A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA)?
Tá difícil aturar uma situação dessas. Eu seria a favor desse impeachment se todos os nomes citados e envolvidos com corrupção estivessem na mesma peneira. Caiu só um partido. Acredito que, além de ser um golpe, isso já vem sendo articulado há muito tempo. Quando o Lula assumiu, o Brasil saiu de um buraco enorme. Limpou um pouco a barra lá fora, pagou suas dívidas com o FMI (Fundo Monetário Internacional), por exemplo. Aí me fala uma coisa: o PT chega, coloca a casa em ordem e, quando todo mundo pensa que tá tudo bem, cai a micha da Petrobras e depois caem várias outras michas. Na minha opinião, os caras perceberam que o PT nunca tinha chegado ao poder e falaram o seguinte: “Vamos jogar tudo na mesa pra vocês. Ó, tem isso, aquilo, aquilo. A gente sempre fez isso e nunca deu em nada”. Aí, claro, os caras cresceram os olhos, meteram dólar na cueca… Deixaram os caras com a corda no pescoço pra chegar um momento, que é agora, em que eles falaram: “Vamos retomar”. Que vergonha o Collor dando depoimento, cara. O Aécio… Foi anulado o processo dele, né (no STF)? Pfff.
ME FALA DO CENÁRIO DO RAP NO QUAL VOCÊ É UM POUCO FAMILIARIZADO…
Conheço algumas pessoas (risos).
O QUE É O RAP HOJE, EM 2016?
Olha, o rap é o que ele nasceu pra ser. Uma música que se tornou popular. Se você for na rua, pode ouvir qualquer tipo de música, mas vai ouvir alguém fazendo rap também. E hoje, com esses novos nomes, apareceu um novo público, dessa era digital. Antes o rap brasileiro era uma coisa muito de conceito mesmo. Hoje é mais comercial e eu vejo isso de maneira positiva, porque o objetivo é que mais pessoas conheçam seu trabalho. A gente, das antigas, conseguiu pavimentar uma estradinha aí pra poder caminhar com passos mais firmes, né? Agora, o que tá acontecendo, é uma evolução natural.
MAS MUITA GENTE FALA QUE “FULANO DE TAL É VENDIDO”. QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE ISSO?
Você desenvolve um trabalho e alguém tem que comprar. E não dá pra confundir as coisas e achar que o artista tá vendendo a própria alma. É a opinião de quem não conhece o meio artístico. Muitas vezes, essa pessoa até gostaria de alcançar o mesmo espaço de determinado artista e não conseguiu. Pô, você vai fazer um trabalho pra sua família e seus vizinhos ouvirem? Não, você vai colocar pra vender. É o fruto do seu talento e do seu trabalho!
COMO PIONEIRO DO RAP, VOCÊ DEVE TER RECEBIDO ESSE TIPO DE CRÍTICA…
Sim, escutei bastante. Escuto ainda hoje. Acho que nunca vai deixar de acontecer. Sempre vai ter alguém insatisfeito com seu sucesso, alguém torcendo por sua infelicidade. Eu já me incomodei bastante com isso. Só que um dia deixei de fazer um trabalho que ia me dar uma grana boa e eu tava precisando. Não fiz justamente por acreditar nesse conceito, de que eu estava me vendendo. Enquanto isso, as mesmas pessoas que faziam essas críticas estavam trabalhando. Eu pensei: “Pô, eu sou vendido porque tava subindo naquele palco e ele não é porque tá subindo nesse? Não existe diferença de palco. Seja um caixote, seja um palco do Lollapalooza. É seu talento e seu caráter que vai mandar o recado. Quer dizer que você vai ter de chupar chupeta pro resto da vida porque você chupava quando criança? Não concordo com isso, nunca concordei e nunca vou concordar.
O RAP TRATA A MULHER DE UMA MANEIRA MEIO MACHISTA…
Desde o início. Tem uma música que fala: “Aí, fulano, cicrano, paz. Cuidado ca vadia no banco de trás”. Não concordo. E o rap tá repensando isso, acho até que eles estão se retratando aos poucos aí. Nem tinha como eu ser machista: fui criado por uma mulher, que era minha avó, tenho três filhas, tenho minha esposa, tenho uma irmã. Não posso ser machista pelo meu próprio bem (risos).
SEU PAI…
Morreu há uns 10 anos. Não fui criado por ele, não tivemos muito contato. Ele morreu bem na época em que tentei ter uma conversa com ele sobre o que havia acontecido. E teve minha mãe biológica, que mora em São Paulo, que não me criou. Quem me criou foi a mãe dela, minha vó. E é ela que eu chamo de mãe. É nela que eu penso no dia das mães.
COMO É SUA RELAÇÃO COM A MORTE?
Péssima. Tão péssima que a gente não se vê. Eu fujo! Não convido pra aniversário, pra Natal, nada.
VOCÊ TEVE AMIGOS QUE MORRERAM?
Ah, sim. Quando você mora em periferia, a morte é uma coisa natural, infelizmente. Você está preparado pra morte de alguém. Hoje ainda tem câmeras, celulares, mas na época o que acontecia lá ficava lá. Eu sofri várias e várias humilhações pela polícia. Milhares delas. E eles nunca trataram as pessoas bem. O desrespeito e o medo que a população brasileira tem dos policiais é culpa deles. Eles que deveriam dar o bom exemplo. Eu morava na Cidade Leonor e, cara, umas três vezes por semana eu acordava com a porta no chão. A polícia chegava, metia o pé na porta, revistava todo mundo, mesmo sendo criança, aí falavam: “Não é aqui, não. Não é aqui, não”. E saíam. Deixava todo mundo ali, sem pedir desculpa.
COMO VOCÊ REAGE AO SABER QUE O SECRETÁRIO DE SEGURANÇA DE SP (ALEXANDRE DE MORAES) É O NOVO MINISTRO DA JUSTIÇA?
Vai ser Telhada (Coronel Telhada, deputado estadual, ex-integrante da ROTA) pra todo lado. Vai ser Telhada na cabeça de todo mundo aê (risos)!
BEBIDA DA VEZ_
Thaíde não gosta de cerveja, mas aprovou a Magrela, um chope sazonal sem lúpulo, fabricado e servido na Cervejaria Nacional. Ele também mandou o hambúrguer Maracanã.
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