O sambista carioca diz que não é fácil (e custa muito dinheiro) ter um samba-enredo cantado na avenida, descreve como eram suas festas com Chorão na Love Story e afirma que está mais experiente ao lidar com a imprensa depois de ter sofrido com a separação de Adriana Bombom.

por / Juliano Coelho / fotos / Marcus Steinmeyer

QUEM LEMBROU QUE A GENTE TINHA QUE FALAR COM VOCÊ FOI O DI FERRERO, DO NX ZERO. ELE FALOU: “O DUDU TEM CADA HISTÓRIA…”. ESTOU AQUI PRA SABER DESSAS HISTÓRIAS…
Tem algumas, né? As publicáveis e as impublicáveis. A história vai fluindo com o papo, parceiro, vai conversando, a coisa vai fluindo.

Dudu Nobre - Matéria - Revista Sexy

VOCÊ JÁ DISSE QUE CURTE BEBER SÓ VINHO…
Me amarro em vinho, não sou muito de cerveja. Comecei a beber vinho nas horas de fazer música. A gente bebe um vinhozinho, come um queijo…

ANTES DO SHOW?
Não, geralmente depois… Quando vou pro show, em São Paulo, onde posso beber. No Rio eu sou o cara mais parado na Lei Seca. Fui parado mais de 45 vezes…

E EM NENHUMA COM ÁLCOOL NO SANGUE?
Sempre tudo de boa. Teve uma vez só que o cara levou meu carro porque minha mãe tava internada e eu tava preocupado, nem ligando pra essas coisas, e esqueci da vistoria… Saí do Maracanã e passei na primeira blitz: o cara puxou no computador e falou: “Realmente tá marcada a falta da vistoria”, mas deixou passar. Me pararam em outra! Aí o cara chegou, viu que tava sem vistoria e perguntou – eu tava com casaco do Flamengo – “Tu é Flamengo?”, e eu falei: “Não, sou Bangu! (risos)”. Ele olhou pra minha cara e falou: “Aí, teu carro tá rebocado”. O cara levou o carro! Marquei o nome dele. Pouco depois, no fim do ano, o batalhão dele me chamou pra fazer um show e falei: “Ó, não vou fazer esse show por causa do Tenente ‘não sei quem’, que rebocou meu carro”.

(DUDU, DE REPENTE, COMEÇA A FALAR COMO QUASE PERDEU UM DE SEUS CAVAQUINHOS PREFERIDOS, QUANDO O INSTRUMENTO QUEBROU AO MEIO NUM ACIDENTE DE CARRO.)
Fui fazer um show acompanhando o Dicró quando eu tinha 16 anos. Chegamos lá e, no lugar, meu bróder, tinha 16 pessoas. Tava chovendo pra caralho… acabou o show e voltamos. E ele tinha aquela porra daquele Chevete de tração traseira, numa estrada de terra, merrmão, e o Dicró perdeu o controle do carro, bicho. Aí, cumpadre, o carro deu aquela rabiada e o Dicró não tinha muito essa manha de pilotagem. Ele foi pro lado errado e deu de frente pro barranco. Tava com o cavaco no meu colo, no case (embalagem protetora)… bateu o carro e estourou case e cavaquinho. E aí tava aquela coisa de quando acaba de dar uma porrada com o carro, todo mundo naquela tensão. “E aí, tá tudo bem, tudo bem?”, e eu disse: “O braço”. E o Dicró: “Puta que pariu, quebrou o braço?!”, e eu respondi: “Não, foi o braço do cavaquinho. Era melhor ter quebrado o meu braço do que o braço do cavaquinho, pô”. Meu braço conserta sozinho, não é merrmo?

A SUA MULHER TÁ GRÁVIDA, NÉ?
Tá entrando no nono mês. Mais uma menina. A gente faz o que gosta, né, cumpadi? A paternidade foi uma parada que me completou. Uma das paradas que mais me emociona hoje é ser pai e disputar samba-enredo. Tanto que estou disputando, em São Paulo, na Mocidade Alegre e na Vila Maria, e no Rio estou disputando no Grupo de Acesso na Viradouro e na Porto da Pedra. No Grupo Especial, estou disputando na Unidos da Tijuca (a edição foi fechada em 10 de agosto. Quando a revista vier às bancas, já terão saído os resultados das disputas).

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A DISPUTA DENTRO DA ESCOLA É MAIS ACIRRADA DO QUE A DISPUTA NO DIA DO DESFILE, NÉ?
É, é engraçado. Tem grupos de compositores que fazem sambas pra diversas escolas. Em São Paulo é liberado: o cara pode assinar em mais de uma escola do Grupo Especial. No Rio, não. Só pode assinar em uma.

PESSOAL ACHA QUE É SÓ FAZER A MÚSICA…
Não. Samba-enredo é complicado, meu compadre… Tem que ter uma equipe. Por exemplo, hoje vai ter eliminatória na Porto da Pedra e aí tem toda uma equipe indo pra lá: vão ônibus com torcedores, entendeu? Geralmente funciona assim: tenho alguns parceiros com quem faço o samba, aí tem a galera da criação, a galera que entra investindo dinheiro e a galera do trabalho braçal.

ESSE PESSOAL TODO ESTÁ NOS CRÉDITOS?
Todo mundo ali. Por isso que você vai ver os compositores e tem oito nomes! É chato porque, provavelmente, hoje em dia, muitos dos sambas que são clássicos não teriam ganhado. A disputa é muito acirrada. Em São Paulo vou cantar no sábado na Vila Maria, porque estou disputando samba. Domingo vou cantar na Mocidade Alegre, pelo mesmo motivo. E aí você tem uma despesa alta, porque precisa colocar um cantor de ponta pra cantar o samba. Tem intérprete que cobra R$ 2.500 pra cantar 10 minutos de samba.

PREJUDICA A QUALIDADE DOS SAMBAS?
Prejudica a disputa. Se você for disputar o samba numa escola como o Salgueiro ou a Mangueira – que são as escolas em que se gasta mais pra disputar – e for até a final, não vai gastar menos que R$ 100 mil.

VALE A PENA?
Se a escola voltar pro desfile das campeãs, o prêmio do autor é de R$ 520 mil. Aí tem escola que pega um pedaço do prêmio, 50%, 30% e até 70%. A única escola que não pega é a Portela. Pro investidor é negócio de risco.

ATÉ PORQUE PODE PERDER LÁ NO COMEÇO…
Se perder no começo, tá lindo… Brabo é você perder no final! No Especial, por exemplo, se voltou no desfile das campeãs, ganha R$ 520 mil. Em São Paulo, dá uns R$ 60, 70 mil. E o que acontece? Você tem um grupo de 10 compositores que faz todos os sambas…

“TEM GENTE QUE PENSA DE FORMA ERRADA (SOBRE AS FESTAS DE JOGADORES DE FUTEBOL). VOCÊ CHEGA LÁ E TEM MULHERES LINDAS, CLIMA DE AZARAÇÃO, MAS NÃO É UM BACANAL.”

E QUEM FAZ PARTE DESSE GRUPO? VOCÊ?
Pode-se dizer que sim… Pessoal fala que é o escritório do samba. Posso dizer que eu tenho meu escritório de samba. Há os grandes, que são os caras que na atualidade estão fazendo pra todos os lugares. É o André Diniz, o Diogo Nicolau, que é parceiro meu, tem o Arlindo (Cruz), tem o Cláudio Russo, um dos maiores também. Enfim, tem uma galera que faz muito samba e o pessoal procura. Em São Paulo eu faço muito com um trio de compositores: o Turco, o Maradona e o Paulinho Miranda, que já ganharam mais de 60 sambas-enredos. Tem o Rafa do Cavaco, e o Thiago de Xangô, que são compositores mais jovens com quem eu trabalho. É bacana sentir a emoção de uma música sua cantada na avenida por milhares de pessoas… Quando desfilei pela Mocidade, em 2014, fui em cima do carro de som pra ter uma dimensão da coisa. Tive a oportunidade de ter dois sambas cantados naquele ano, né? Um com a Viradouro, que foi a campeã, e outro com a Mocidade. E o momento da vitória é muito bacana. Junto com o nascimento de um filho, é uma das poucas coisas que me emocionam. Porque em 15 anos de carreira solo e 31 anos na música, você já viu de tudo, né, cumpadi? Viu um monte de balão japonês subir e descer…

E VOCÊ FOI DIRETOR DA TORCIDA JOVEM DO FLAMENGO, ALÉM DE TUDO…
Tudo na minha vida girou em torno do samba. Eu tocava no River (Futebol Clube) da Piedade. Estava lá de domingo e conheci uma rapaziada da Torcida Jovem do Flamengo. Aí comecei a frequentar o Maracanã quando eu tinha uns 12 anos. Comecei a me envolver com aquela coisa, o pessoal do muay thai, do jiu-jítsu, aquela efervescência de luta… Comecei a praticar e dali a pouco teve a primeira confusão. Não posso abandonar meus amigos na pista, né? Quando vai ver, tu tá envolvido! Era uma época legal, que eu curti bastante e saí viajando. Outro dia me chamaram pra cantar o hino do Flamengo, e veio um antigo presidente do clube e falou: “Lembro de você lá na Argentina”, e eu disse: “Lembro do senhor também, me deu 100 dólares…”. Quando fomos pra Argentina, ficamos uma semana lá perto do Boca, da Bombonera, numa favelinha.Fomos pra Plaza de Mayo, pusemos um chapéu no chão, e os caras ficaram uma semana lá ganhando dinheiro às minhas custas. Meu banjo mantendo todo mundo. Era uma época legal.

COMO DECIDIU FAZER CARREIRA COMO CANTOR?
Comecei músico, o músico alcançou um ápice que puxou o compositor, que, por sua vez, puxou o cantor. Fui fazendo acontecer. Quando ia gravar uma música pra mostrar pra alguém, gravava no estúdio. Eu sabia que a música seria ouvida pelo artista, pelo presidente da gravadora… Naquela época, vagabundo mostrava a composição com gravação de fundo de quintal. Eu não, gravava pesado, trazia a molecada pro estúdio… Sempre fui muito bom gravando.

E VOCÊ SABIA QUE CANTAVA BEM…
Não sou um bom cantor. Hoje eu aprendi a cantar. Eu sempre tinha um problema de língua presa, sabia que tinha que dar uma caprichada no estúdio. E eu produzia muita música. No primeiro disco, tinha mais de 60 gravadas, hoje tenho mais de 200… Teve um ano em que eu tinha música minha de trabalho com os quatro grandes artistas do samba na época, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Fundo de Quintal e Beth Carvalho. Teve um especial no Fausto Silva em que apareceu uma característica bacana do samba: o pessoal não tem tanto essa vaidade que tem em outros estilos. O Fausto perguntava: “Essa música é de quem?” pro Fundo de Quintal, pra Beth Carvalho, pro Martinho da Vila e sempre respondiam: “É do Dudu Nobre”. Aí, quando perguntou pro Zeca, ele mostrou: “Esse cara aqui”, e eu tava lá na banda, garotinho. No samba o pessoal se ajuda mais que em outros estilos. Quando comecei, vou te falar, esperei muito pra ter a oportunidade. Falo sempre pra molecada: “Mano, estuda, porque, quando a oportunidade vier, você vai ter só uma chance”. Foi o que aconteceu comigo e hoje sinto até falta de ter sido mais bem preparado do que sou.

QUANDO VOCÊ VÊ QUE FALTA?
Quando fui pra fora do Brasil tocar em Montreux e teve uma jam session na casa do Claude Nobs (fundador e diretor do Montreux Jazz Festival). Ele juntou todos os artistas que tocaram naquele dia: eu, George Benson, Sting, Santana… Porra! Aí, que acontece? Eu tocando meu cavaquinho e os caras “tudo” lá fazendo som. Lógico que a gente batia um papo, mas se eu tivesse um desenrolo do inglês legal o papo fluía muito melhor.

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COMO É O MOMENTO PRA COMPOR?
Depende muito do que você vai compor. Agora é a época de fazer samba-enredo e pra compor tem que dar cabeçada. Todo mundo quer estar ali junto: o pessoal vai lá pra casa, minha mulher faz um banquete – é sopa de ervilha, dobradinha, churrasco, pão de metro, garrafa de vinho (teve dia lá que a gente foi fazer samba e bebemos oito garrafas de vinho, gastamos o prêmio todo em vinho) -, aí, beleza, começa a fazer o samba. No segundo encontro, já marco com quem vai fazer mesmo. E no terceiro, pra dar uma lapidada, chamo todo mundo de novo. Geralmente é assim. Já pra fazer música de meio de ano, eu faço com parceiros por WhatsApp; tem parceiros que vão lá em casa… Quando vou fazer música pro meu disco, faço na época da gravação, porque é muito projeto, não dá tempo. Ainda tem a função de pai, filho, marido, patrão, sócio… é muito complexo.

E DINHEIRO COM MÚSICA É EM SHOW, NÉ?
Acontece o seguinte (o celular de Dudu, que não parava de apitar, soou de novo)… Esse celular aqui é nego que quer falar de samba-enredo, viu? Então, o negócio da música mudou muito, tem que estar atento. A internet não tem regra. O Youtube paga, mas as pessoas não sabem como isso acontece. Agora estou com meu canal no Youtube bombando, vou postar vídeo de ensaio uma vez por semana. Há entrada de dinheiro com isso e artisticamente não te prejudica. Tem que ver o lado do business. Show bom é quando todo mundo fica feliz: o público, o artista e o contratante. Por isso sempre tento atender todo mundo antes ou depois do show. Tem duzentas pessoas na fila? Entra de três em três que a gente atende. Nesse negócio conheci muita gente que era meu ídolo, mas pessoalmente foi uma decepcão. Aprendi a separar a obra da pessoa, o CNPJ do CPF. Tem gente que tem o CNPJ maravilhoso, mas o CPF… Eu, graças a Deus, transito super bem com todo mundo. Era muito amigo do Chorão. Lembro quando a gente ia pro Love Story (casa noturna de SP) (risos).

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TEM HISTÓRIA DISSO?
Muitas… Eu e o Chora na Love Story era o bicho! Ele era muito bacana, sempre me tratou com o maior respeito. Uma vez eu tava na piscina de casa e tinha um show do Charlie Brown Jr. no Riocentro, que é perto de casa; dava pra escutar o show de lá. Aí eu tava com minhas filhas e pouco depois teve um momento no show em que o Chorão dizia: “Pau no cu dos políticos! Pau no cu de não sei quem! Pau no cu dos pagodeiros!”. Aí minhas filhas me olharam com aquela cara de “ué?”, e eu falei: “Ele é amigo do papai e papai é sambista”. Aí, ele grita: “Menos o Dudu Nobre, o Bezerra da Silva e o Zeca Pagodinho (risos)”.

O QUE É PUBLICÁVEL DAS HISTÓRIAS NA LOVE STORY, A CASA DE TODAS AS CASAS…
A casa de todas as casas! Era legal, né, bicho? Chegava eu e o Chora e era aquela alegria toda, né? “Árr minina” sofrendo e a gente levando alegria “prárr minina”. E por aí vai, né (risos)? Na época eu tava solteiro e ele também tava tranquilo. A gente ia pra lá e só saía de manhã, né? Lá era tudo escuro, aí quando a gente abria a porta entrava aquele sol batendo na cara… A gente pegava uma mesa no segundo andar e, quando saía, era aquele séquito atrás… Aquela coisa linda…

IA PERGUNTAR DESSA VIDA DE SOLTEIRO…
Aproveitei bem. Não tenho do que reclamar. Faz parte. E os “cara” acham que é o seguinte, meu velho: “Pô, o cara tem dinheiro e aí é fácil arrumar mulher”. Não é, cara! Pessoal tem medo de mulher bonita. E às vezes cara chega com papo bobo. A coisa acontece quando o cara sabe chegar, sabe conversar e fazer a mulher sorrir. Aí a coisa flui, parceiro. E, graças a Deus, a gente sempre foi bom de palavra, né? Se deixar falar, a gente vende o Cristo Redentor e ainda vai levar a praia de Copacabana de brinde. Vou te contar, eu já fiz a lenha, cumpadre, agora tô na moral. Até porque, também, a história é sempre a mesma, né?

QUAL É?
Começa… aí tu tem um envolvimento, aí vai e tem um prossiga, e, no terceiro, vem: “Pô, tem o plano de saúde do meu filho, a escola, minha mãe tá com problema, tô pagando a prestação atrasada do carro… Não sei o quê”. Aí é a hora de você falar tchau. Tem um amigo meu que diz o seguinte: “Você bota a mala naquela esteira de aeroporto, ela fica rodando. De vez em quando você pega a mala e depois põe no lugar de novo e deixa rodar, senão é complicado”. Enfim, eu me dou bem desde quando era duro. E olha que sempre fui feinho pra caralho. Com 13 anos, arrumei uma namorada de 28. Pessoal ficava olhando com aquela cara de: “Não é possível”, e eu dizia: “É o cavaquinho”. Ajuda muito, meu velho.

QUEM NÃO É FAMOSO IMAGINA UMAS FESTAS DE QUEM É DO PAGODE, DO SAMBA, DO FUTEBOL, QUE SÃO BEM INTERESSANTES…
Olha… Tem, pô! Principalmente com meus amigos que jogam futebol. Tenho alguns vizinhos festeiros. Mas tem gente que pensa de uma forma errada. Na real, você chega lá e, claro, tem mulheres lindas, tem clima de azaração, mas não é uma coisa tipo… bacanal. Não é isso de chegar aqui e o cara tá transando ali. Tem momentos que, às vezes, a coisa vai pra esse lado, que perde o controle. Mas, em geral, é festa normal. Tem muita gente que não pode sair à noite porque o assédio é muito grande, entendeu? E, geralmente, todo mundo tem uma condição bacana, então tem boas bebidas, boa comida… E você tá ali. Realmente tem meninas que te dão uma condição e, se você tem uma moral na casa, você já vai ter uma suíte… Aí vai da moral que cada um tem. Quem não tem moral na casa pega e leva pra dar uma passeada…

QUANDO VOCÊ SE SEPAROU DE SUA EX-MULHER, DEVE TER SIDO DIFÍCIL O FATO DE SER FAMOSO (DUDU SE SEPAROU DE ADRIANA BOMBOM EM 2009). COMO ESTÁ ISSO HOJE?
Até hoje pegam no meu pé. Fácil não é, né, bicho? Mas você foca em seus projetos, em alguma coisa diferente e vamos embora. É desagradável, mas é o preço que você paga. Hoje, não tenho amizade com a Adriana, mas respeito ela por ser mãe das minhas filhas.

SEPARAÇÃO NÃO É FÁCIL PRA NINGUÉM…
E as pessoas têm essa curiosidade de querer saber. As pessoas pensavam: “O cara é um sambista e arranjou dinheiro. Vai casar com uma ‘lora'”. Eu não. Casei com uma negra. Depois disso, tinha um monte de gente que falava: “É o casal black! O casal afro!” Aí, às vezes chegava na boate com a Adriana e aparecia uma pessoa e falava: “Chegou o casal Black, que representa a negritude!”. Na separação, o pessoal falou: “Pô!”. E foi bem quando a imprensa marrom começou a ter o tamanho que tem hoje no Brasil…

E TEM MUITA MENTIRA TAMBÉM, NÃO?
Ah, tem coisa inventada. O cara grita de uma maneira e a coisa é de outra. Por exemplo: o Rio de Janeiro inteiro sabe que eu era praticante de tiro esportivo. Todo mundo sabe que meus tios eram policiais e eu também queria ser. Quando você tem uma autorização do Exército, pode ter armas. Com o tempo, você pode comprar armas de determinado calibre. E eu era colecionador de arma. E quem é colecionador de arma tem arma, pô! Um belo dia, apareceu uma foto minha na capa de um jornal com um fuzil. O cara botou lá: “Dudu Nobre com um fuzil!”, aí lááá no meio da matéria, pôs: “Todo mundo sabe que ele gosta de arma, mas é uma foto chocante”. Aí você começa a ter muito cuidado quando vai dar entrevista. Você aprende a perceber essa maldade.

E O QUE VOCÊ ACHOU DA BEIJA-FLOR GANHANDO O CARNAVAL COM O ENREDO PATROCINADO PELA GUINÉ EQUATORIAL?
Cara, alguém tem que pagar a conta. Você tem uma empresa de copo e vamos dizer que sua família tem esse negócio há 150 anos. Sua empresa fatura R$ 300 milhões por ano. Aí ela vai fazer 150 anos e você quer falar dessa história. Tem uma escola de samba que quer um patrocínio de 10 milhões pra colocar um Carnaval na rua. Quer um quadro melhor que esse? Uma maneira melhor de anunciar esse copo pro mundo inteiro? Tá todo mundo vendo a empresa de copo do fulano. São poucas as escolas de samba que conseguem se manter só com a subvenção e a movimentação de quadra. Pra você entrar com condições de voltar no desfile das campeãs no Rio de Janeiro, tem que gastar de oito a dez contos. Seria maravilhoso se os enredos fossem só históricos, teria grandes sambas. Só que as pessoas acham que a gente tem que fazer milagre. O samba que estamos disputando na Unidos da Tijuca é sobre a cidade de Sorriso, no Mato Grosso. A linha do enredo tá em cima da cidade e do agronegócio. As pessoas querem ter aquilo na Marquês de Sapucaí. Você chega e fala: “Tem um custo de tanto”, e as pessoas aceitam. Você não vai abraçar? Tem que ter o financeiro. E é por aí que a coisa flui.

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