Após lançar seu novo trabalho, Nando conta que foi tenso segurar um show com apenas voz e violão sozinho, relembra os momentos ao lado de Cássia Eller, fala das burrices do mercado da música e filosofa sobre seu principal tema: o amor.

por / Juliano Coelho e Bianca Castanho / fotos / Marcus Steinmeyer

Nando Reis - Matéria - Revista Sexy

SEU DISCO NOVO: NANDO REIS – VOZ E VIOLÃO. NO RECREIO – VOLUME 1 TÁ BEM BONITO COM ESSA ROUPAGEM. COMO VEIO A IDEIA?
Foi por acaso. Eu fui convidado para participar de um projeto no SESC Pompeia cujo conceito era uma sala de estar. Era para reproduzir ali no palco o que seria tocar na sala de estar da sua casa. Quando vi aquilo, pensei que eu não era o tipo de pessoa que fica tocando na sala de estar. A minha interpretação foi o que eu ouço em casa. Montei o repertório mesclando coisas de outros artistas e conectando com coisas que eu fiz. Quando fiz esse show, teve uma repercussão, e surgiu um convite por parte do Citibank Hall para fazer o show de voz e violão lá. Hesitei, porque gosto de fazer show e gosto de tocar, mas normalmente em lugares menores, teatros, onde tenho uma relação mais próxima com o público, e posso apresentar um repertório diferente. A minha hesitação se deu pelo fato de a casa ser muito grande. Imagina, 3.700 pessoas! Além de ser voz e violão sem contextualização de um disco nem nada? Será que funciona para tanta gente? Mas foi!

COMO VOCÊ ESCOLHEU O REPERTÓRIO?
Preparei um repertório e fui revisitar algumas coisas dos meus discos que, por não tocar há muito tempo, eu estava distante. Montei o repertório com aquele senso de equilíbrio com músicas mais conhecidas, outras mais adequadas para esse formato. Cheguei a tocar até duas inéditas que resolvi não lançar. Era único, um tiro só, único show. Eu fiz isso para uma plateia enorme, um show que nunca tinha feito. E resolvi registrar – é totalmente diferente você fazer em casa e em cima do palco. Claro que, na hora H, fiquei bastante nervoso de segurar um show inteiro. Primeiro fiz um repertório meio arriscado, de coisas com as quais não estava exatamente familiarizado. Na hora eu até mudei, porque estava entrando em uma roubada.

HOUVE ALGUM RECEIO EM TOCAR SOZINHO?
O show foi incrível, emocionante. Tenho uma certa característica, que não necessariamente me agrada, mas tenho que lidar com ela, que é o fato de que às vezes eu erro. E nesse show, que teve músicas que eu nunca havia tocado, o nervosismo contribuiu… Bom, o material foi feito, mas eu estava planejando um disco de inéditas, já que meu último era de 2012. No entanto, por várias razões, mercado, própria agenda, época do ano, eu resolvi postergar esse disco que estou gravando para lançar em 2016. Aí fui ouvir o material do show, e achei que seria legal lançar. O que me convenceu foi que nunca lancei nada em voz e violão. E eu gosto da forma como toco, acho que apresenta as músicas por um outro ângulo. E, claro, o repertório tinha coisas que poderiam ser interessantes. Mas neste disco eu trato um pouco da ideia de um intervalo naquilo que majoritariamente faço na minha carreira. Tanto que o nome dele – Voz e Violão. No Recreio, Volume 1 – surgiu porque “No Recreio” é uma música, que aliás não está no disco. O volume 1 é que, sendo o primeiro disco com meu selo, Relicário, que é para lançar…

E COMO ESTÁ A CARREIRA COM SEU SELO?
Quando eu fiquei independente, quando a Universal não quis renovar meu contrato alegando que eu não dava lucro, optei por fazer um lançamento independente. Foi uma escolha que fiz para continuar explorando caminhos, já que o mercado ficou completamente diferente. Isso me levou a pensar que eu nunca havia me envolvido com outros aspectos do meu trabalho, como comercialização, distribuição, administração, planejamento, e comecei a olhar diferente. O selo é algo que identifica que é meu, posso inclusive lançar outras coisas. Eu editei, mixei, tirei as músicas inéditas para deixar que a novidade seja justamente esse formato. E tem duas novidades do meu repertório como compositor que é “Diariamente” e “Sutilmente”, que eu nunca havia gravado. Isso foi bom também para ter uma ideia da associação do meu trabalho apenas com Os Infernais (Banda de apoio de Nando), uma coisa de libertação e preparação de campo para outras coisas da independência no sentido do controle de todos os aspectos. As pessoas acham, preconceituosa ou desinformadamente, que, se você está em uma gravadora, você se submete às direções e aos desejos deles, que são piratas querendo sacanear e roubar o artista. Eu sempre fui independente pra fazer o que quisesse em qualquer âmbito.

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COMO VOCÊ NÃO É UM ARTISTA RENTÁVEL?
Eu, de fato, não imaginava ficar independente. Quando a Universal decidiu não renovar foi um pouco chocante. Eu não havia planejado, embora considerasse uma alternativa muito mais pela observação da falência da indústria fonográfica. E óbvio que senti isso enquanto estava lá dentro. Confesso que me senti um pouco ultrajado, principalmente pelo argumento deles. É aí que tá a minha indignação. O ponto de vista é o seguinte: eu faço música, quem tem que vender é vocês. Vocês não querem renovar, a escolha é de vocês, mas eu saio daqui falando que vocês são burros. Não sabem vender, não se preparam para a mudança. Uma grande gravadora tem um casting que não é focado somente naquilo que vende, mas no que tem qualidade. Mas, enfim, eu estava desempregado, e fui tratar da minha vida, o que foi ótimo, porque, se não era uma decisão, passou a ser depois que declinei de convites de outras gravadoras que, passando por essa falta de dinheiro, queriam propor relações que para mim eram inaceitáveis, como envolver percentuais de show e coisas com as quais sou intransigente. São coisas distintas. Desde que passei a experimentar, e continuo dizendo que é uma experimentação, trabalhei de maneira satisfatória.

JÁ TEM PLANOS PRA LANÇAR PELO RELICÁRIO?
O selo Relicário passou a ser uma marca que vai identificar coisas relacionadas ao meu trabalho, que inclusive não serão apenas os discos de estúdio, que ainda pretendo fazer, como outras coisas. Tenho um desejo muito grande de lançar uma espécie de livro com as cartas que escrevi para Cássia Eller, que aliás estão na música “All Star”, com a transcrição de uma conversa em uma noite que estava apresentando a música pra ela, com um texto meu tratando das canções todas que ela gravou de minha autoria; enfim, é uma coisa que poderia lançar pelo Relicário. Tenho uma mala grande com umas 70 fitas cassetes com material. Dentro do meu selo Relicário eu posso ter liberdade. Além de não precisar pedir autorização para ninguém, a liberdade contida ali é de uma natureza correlata à de criação, mas também a de abordagem do material. Tem duas ou três músicas no disco que estão com erros, vou te contar a história. Eu havia me preparado, ensaiado uma música (Diariamente) que tem uma letra longa, e não tem refrão, é cíclico, a melodia, a associação das imagens; enfim, muito associado ao repertório da Marisa (Monte). Como era um único show e eu estaria nervoso, eu coloquei o papel ali na frente – muitas músicas eu cantei lendo a letra. A pior coisa que tem é você ler uma letra, mesmo que seja aquela que você decorou, pois, se tem o papel na sua frente, você vai ler. A cagada foi que eu não revisei a letra que eu imprimi e tinha um erro! Eu deixei passar! Na hora em que cantei, só pensei “fodeu”, mas estava no meio da música, não tinha como voltar do começo. No final, disse à plateia que havia errado, e no disco tem essa fala, achei que tinha a sua graça. Quando voltei pro bis, achei que seria um puta saco refazer a música.

SE TIVESSE SEM PAPEL, TALVEZ ROLASSE?
Acho que não, pois eu estava muito tenso! O erro foi não ter revisado. Há outros erros menores, outras coisas. Quando fui fazer o encarte do disco, eu vi que estava cantando uma versão diferente da original e cheguei a uma questão: o que imprimir? A música com erro? Aí optei por colocar a letra original, porque qualquer pessoa que vá consultar aquilo precisa da música como ela foi feita, embora o que eu apresente sejam versões daquilo. Isso é uma coisa sutil, mas importante. Embora seja um registro que eu desejasse não ter errado, e inclusive não pus uma música inédita porque eu errei, e não queria apresentar uma música que nunca foi conhecida de forma errada… Eu, como autor, posso apresentar as minhas letras como for, embora isso seja um argumento falso, e algumas das minhas letras foram adaptadas por coisas relacionadas. Então o disco tem versões de músicas cuja letra original está no encarte, como se fosse um arquivo da Biblioteca Nacional, sei lá. Por exemplo, o Gil, no “Refavela” de 78, canta o “Samba do Avião”, de Tom Jobim, e é uma versão que omite partes, aliás. Mas é uma versão do Gil! É um exemplo importante. Quando você regrava uma música, você inclusive está sujeito a fazer alterações ou supressões, o autor pode até ficar puto ou não. Eu não fiquei puto, porque o autor e intérpete fui eu (risos).

É CORAJOSO LANÇAR COMO FOI, SEM REFAÇÃO.
É, eu não acho errado as refações, não tenho nada contra. Mas um disco de estúdio, que é o que eu estou fazendo, a possibilidade de controle é muito maior. Ali era ao vivo! Há algo nessa forma de realidade que me interessa que faça parte do meu tipo de trabalho, essa imperfeição do ser humano. De certa maneira, é algo que não só defendo, como sustento. O erro é casual, mas a decisão de apresentá- lo como criei é deliberada, então não é errada. Tudo isso para dizer qual é a razão desse disco. É claro, e já posso imaginar que rola um: “Poxa, o Nando regravando de novo, e isso me aborrece um pouco. É óbvio que estou louco para gravar um disco de estúdio, mas tenho que me preocupar com outros aspectos da condução da minha carreira. Um disco desse precisa de condições mais favoráveis, quero fazer músicas novas.

VOCÊ DISSE QUE NÃO É UMA PESSOA DE TOCAR NA SALA DA ESTAR. MAS VOCÊ TEM CARA DE QUEM TOCA NA SALA DE ESTAR…
Eu fico (na sala de estar), mas vou te dizer o que chamo de “não ser” da sala de estar. Eu viajo muito, passo muito tempo sozinho, e em parte minha sala de estar é o quarto de hotel. Ali estou sempre com o meu violão, que é o meu grande companheiro. Quando estou em casa, faço outras coisas. Quando era adolescente, vivia com o violão, porque era aquilo que me apaixonava. Tenho cinco filhos, um casamento, uma vida atribulada. E tenho um pouco de timidez, não sou o cara que vai pegar e vai ficar tocando. Meus filhos querem conversar comigo, eles não querem me ver tocar. Compor é uma coisa que se faz, para mim, sozinho, eu me permito. Então não existe essa relação do violão com a sala de estar (risos). Se o conceito fosse quarto de hotel, então sim.

“A CAGADA FOI QUE NÃO REVISEI A LETRA QUE IMPRIMI E TINHA UM ERRO! NA HORA EM QUE CANTEI, PENSEI “FODEU”, MAS ESTAVA NO MEIO DA MÚSICA.”

VOCÊ COMPÕE EM QUARTO DE HOTEL?
Basicamente, embora eu tenha parceiros, confesso que, cada vez menos e não por presunção da minha parte, as condições que passaram a ser mais propícias para a composição é estar sozinho. Sofro muito com a permanente ideia de que possa fazer algo que não venha a me agradar ou que seja redundante ou que me frustre, e isso é perturbador. Então, estar em silêncio é melhor para entender. E por outro lado é contraditório, porque tendo outras pessoas há mais possibilidade de contribuição. Tenho uma parceria com o Samuel Rosa, que, via de regra, me manda a melodia e eu mando a letra. Nunca fizemos uma música sentando um do lado do outro. Na hora de compor, não me interessaria ficar ao lado de ninguém se não fosse compositor. Eu faço no papel e caneta, em geral eu não uso computador, que passa a ser para outra etapa. Tudo nasce mais ou menos junto, ideias de todas as formas. É uma maneira de ocupar o meu tempo, pois também sou ávido por escrever música nova. Posso ficar obsessivo por uma música. A hora que engrena é algo muito intenso para chegar à resolução, é muito laborioso e delicioso. Estou falando dessa coisa obsessiva. Eu fico no hotel trabalhando em um riff só e dali a pouco está amanhecendo! A parte de ficar lapidando é envolvente. É uma boa coisa para se aproveitar quando se está num voo de horas para João Pessoa. Por isso que eu não toco aqui, né? Meus familiares achariam maçante ficar vendo eu tocar, e nem eu quero ficar tocando! Certamente o Gil faz diferente, o João Gilberto faz diferente com certeza. Outro dia eu estava pensando nisso, que eu queria ser mais assim… Mas não dá, e nem sou obviamente o João Gilberto. Ninguém é.

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E SOBRE ESSE LIVRO DA CÁSSIA (ELLER), QUE VOCÊ HAVIA MENCIONADO, É O QUÊ?
Ah, eu vou te contar! Tenho umas correspondências, que na verdade não são correspondências, porque… é engraçado. A música “All Star”, que descreve a minha relação com a Cássia, foi assim. Eu conheci a Cássia em 97, de me aproximar e ficarmos amigos. Eu estava no Rio e ia gravar algumas coisas, os Titãs iam entrar em estúdio, eu estava com bastante tempo ocioso, e a conheci através de amigos. Nós nos identificamos, nos aproximamos, gostamos muito um do outro e aí veio o convite para produzir o disco dela. Por isso, a gente se encontrava muito, eu ia muito à casa dela em Laranjeiras, e passávamos noites conversando e tocando violão. Eu queria muito saber quem era ela, o que ela tinha para falar. E eu ia à casa dela de táxi, então eu falava “me leva ali!”. Um dia, quis mandar uma carta para ela e descobri que não sabia seu endereço formal. Aí liguei e pedi o endereço, e ela começou a rir. E essas cartas não eram correspondências apenas, eram letras de música pintadas, coisas bonitas. Ela nunca me respondeu nenhuma delas (risos). E a Eugênia (ex-companheira de Cássia), generosamente, me deu isso como legado. Eu já fui até em editoras para ver, mas não deu muito certo. É algo que exige uma edição, precisa estar relacionado com as músicas. É mais uma das camadas da nossa produção, que isso pode ser público.

POR QUE ELA NUNCA TE RESPONDEU?
Ah, a Cássia é a Cássia, uma pessoa bastante tímida. E as cartas não eram correspondências, a gente se falava por telefone, eram presentes para ela. E eu nem esperava resposta; os presentes que ela me deu são de outra natureza.

VOCÊ RECONHECE NA HORA UMA INTÉRPRETE DA QUALIDADE DA CÁSSIA? BATE O SANTO?
Eu não poderia afirmar isso. Na Cássia, com quem trabalhei bastante, eu reconheço uma identificação que vem de antes da nossa convivência, mas que tem a ver com a interpretação. Além da grande qualidade vocal dela, a forma como ela diz aquilo… Uma vez ela chegou a me falar que sentia que – não sei as palavras e não quero que soe pretensioso – ninguém escrevia de amor da forma como eu escrevia, ou que nunca gostaria de cantar de amor se não da forma como eu escrevia. Havia um conforto na maneira como eu escrevo que fazia ela se sentir bem ao cantar. A Cássia, como a Marisa, são grandes intérpretes que, se cantassem a lista telefônica, ficaria lindo. A Marisa, eu fui parceiro dela – sou ainda – e fizemos dois discos muito importantes para mim, Mais e Cor de Rosa e Carvão, Verde, Anil, Amarelo. Eu fico muito feliz de estar envolvido com dois discos que considero preciosidades: Com Você Meu Mundo Ficaria Completo (da Cássia Eller) e Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão. Os títulos, aliás, fui eu quem dei. Adoro títulos longos (risos). Da Cássia, produzi muitos discos, e os trabalhos que fizemos juntos ampliaram a visão dela – eu achava muito pobre a visão que as pessoas tinham dela, de reduzi-la a cantora de blues sapatona. Quando a Cássia se apaixonou pelo meu trabalho, por mim, quando nos apaixonamos, ela disse que queria gravar um disco meu, e eu perguntei se ela estava louca! Ela precisava gravar algo dela! Por mais tímida que fosse, nós só gravamos coisas que ela dissesse sim, ela sabia o que queria. Ela ficava muito à vontade, os discos são muito autorais da parte dela. O produtor ali é quase invisível! Por isso que eu falei para não gravar só música minha, para gravar coisa dela. Eu brinquei falando que ia produzir mais três discos, e depois ela tinha que fazer mais coisa na vida (risos). Ela era um vulcão!

“SOU POPULAR MAS NÃO TEM PAPARAZZI NA MINHA PORTA, NÃO SOU ROBERTO CARLOS. ELE É O REI, E EU SOU O REIS.”

COMO RECEBEU A NOTÍCIA DA MORTE DELA?
Foi terrível. A minha sobrinha ligou para a minha casa pois ela viu no Jornal Nacional. Não tinha a menor ideia. Moro em São Paulo, a Cássia no Rio, não tinha convivência com o que estava acontecendo, mas a forma que recebi foi devastadora. Foi uma tragédia.

E DEPOIS DE TANTO TEMPO, COMO FICOU CICATRIZADA A DOR DESSA MORTE?
Eu tive algumas perdas muito doloridas. Mas o caso da Cássia… A gente tem que sobreviver, né. Ao mesmo tempo que o tempo atenua a dor, ele esmaece a memória. Parece que para você sofrer menos, você precisa esquecer um pouco, e é conflitante essa sensação. Quando eu fui ver o musical, a menina que faz a Cássia era muito boa. E eu fiquei: “Nossa, que merda, não quero esquecer essa pessoa”. Tenho muita saudade, dela, do Marcelo (Fromer). E foi terrível, em dois meses perdi dois amigos. O Marcelo, um amigo de infância. E o mais louco é que a morte dela teve um impacto na minha vida profissional, as pessoas passaram a me procurar mais na ausência dela. Eu rechaço isso, não sou herdeiro dela. Trabalhei com ela. Fui amigo. Temos uma importância inegável um para o outro, mas ela fez muitas coisas mais.

COMO VOCÊ LIDA COM A FAMA?
Tem vários aspectos. É claro que esse reconhecimento é derivado de algo que gosto muito, o meu trabalho. Então, é impossível separar uma coisa da outra. A forma como a maioria das pessoas se aproxima é muito carinhosa, mas há limites. As pessoas têm essa ideia de que, se você é alguém conhecido, a recíproca é verdadeira, mas não é. A pessoa sabe muito mais de mim, e faz uma diferença na forma como ela se apropria disso. Gosto do reconhecimento e gosto de lidar com isso, mas tem outras coisas ruins. Felizmente, meu alcance como artista é mediano, sou popular mas não tem paparazzi na minha porta, não sou Roberto Carlos. Ele é o Rei, e eu sou o Reis. Essa coisa das selfies é muito chato! A vida de todos nós piorou depois do celular. Antigamente, as pessoas que vinham falar com você gostavam e admiravam seu trabalho. Hoje em dia, é outra coisa, é para botar no Face e a pessoa ter um like. Ela quer que você aumente o ibope dela, você está quase trabalhando para a pessoa. E a quantidade de pessoas que é invasiva, que não percebe isso, é horrível. E é engraçado, me confundem pacas porque sabem o que eu sou mas não quem eu sou. Sabe com quem? Com o Arnaldo Antunes. Eu não entendo por que, não pareço com o Arnaldo! Eu sou ex-Titã, mas o Arnaldo saiu oito anos antes! Já perguntei para ele se o confundem comigo (risos). É impressionante. “Arnaldo!!!”.

JÁ CHEGOU À CONCLUSÃO DO QUE É O AMOR?
O amor é a coisa mais importante que tem, é o que move o mundo. A relação do amor extrapola a relação de casamento, não tem nada a ver com isso. É uma relação amorosa com a vida, com tudo. Basicamente, as minhas músicas versam sobre esse interesse, essa identificação, e tem a ver com sua imersão no mundo, sua existência. Não tem nada mais importante que isso. Claro que você pode falar sobre várias coisas que são importantes para você. No meu caso, é o que me desperta interesse. Escrevo outras coisas, não é a única possibilidade, mas essa predominância é que estou falando de tudo. É fundamental você ter o seu lugar, respeitar o outro, e você só respeita o outro quando você sabe quem você é. É fundamental o indivíduo saber de si. Faço psicanálise e respeito todas as outras formas, a religião, mas quero que me respeitem também. O meu lugar é meu. Ao mesmo tempo, aquilo que escrevo é muito mais uma idealização, um desejo daquilo que eu gostaria de ser. As músicas são todas as coisas, retratos, sonhos, versões, mentiras, simulações, projeções, e a maioria dessas coisas versa sobre o amor. Acho que quem não ama não é feliz.

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